Bem vindos!!!

Desde os primórdios a Igreja brinda os seus fiéis com a Palavra de Deus. Diariamente, a Igreja incentiva a leitura da Bíblia através da liturgia, nos levando a meditar, conhecer e viver a Palavra de Deus.



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

1ª Leitura - Ez 18, 21-28
Assim fala o Senhor, Se, no entanto, o mau renuncia a todos os seus erros para praticar as minhas leis e seguir a justiça e a eqüidade, então ele viverá decerto, e não há de perecer. Não lhe será tomada em conta qualquer das faltas cometidas: ele há de viver por causa da justiça que praticou. Terei eu prazer com a morte do malvado? - oráculo do Senhor Javé. - Não desejo eu, antes, que ele mude de proceder e viva? E, se um justo abandonar a sua justiça, se praticar o mal e imitar todas as abominações cometidas pelo malvado, viverá ele? Não será tido em conta qualquer dos atos bons que houver praticado. É em razão da infidelidade da qual se tornou culpado e dos pecados que tiver cometido que deverá morrer. Dizeis: não é justo o modo de proceder do Senhor. Escutai-me então, israelitas: o meu modo de proceder não é justo? Não será o vosso que é injusto? Quando um justo renunciar à sua justiça para cometer o mal e ele morrer, então é devido ao mal praticado que ele perece. Quando um malvado renuncia ao mal para praticar a justiça e a eqüidade, ele faz reviver a sua alma. Se ele se corrige e renuncia a todas as suas faltas, certamente viverá e não perecerá. - Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial - Sl 129
REFRÃO: Se levardes em conta nossas faltas, / quem haverá de subsistir?
1. Das profundezas eu clamo a vós, Senhor, / escutai a minha voz! / Vossos ouvidos estejam bem atentos / ao clamor da minha prece! -R.
2. Se levardes em conta nossas faltas, / Mas em vós se encontra o perdão, / eu vos temo e em vós espero. -R.
3. No Senhor ponho a minha esperança, / espero em sua palavra, / A minha alma espera no Senhor / mais que o vigia pela aurora. -R.
4. Espere Israel pelo Senhor / mais que o vigia pela aurora!/ Pois no Senhor se encontra toda graça / e copiosa redenção. / Ele vem libertar a Israel/ de toda a sua culpa. -R.

Evangelho - Mt 5, 20-26
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas quem matar será castigado pelo juízo do tribunal. Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo da geena. Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo. - Palavra da salvação.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

1ª Leitura - Est 4,17n.r.aa-bb.gg-hh
A rainha Ester, temendo o perigo de morte que se aproximava, buscou refúgio no Senhor. Prostrou-se por terra desde a manhã até o anoitecer, juntamente com suas servas, e disse: “Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó, tu és bendito. Vem em meu socorro, pois estou só e não tenho outro defensor fora de ti, Senhor, pois eu mesma me expus ao perigo. Senhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que tu libertas, Senhor, até o fim, todos os que te são caros. Agora, pois, ajuda-me, a mim que estou sozinha e não tenho mais ninguém senão a ti, Senhor meu Deus. Vem, pois, em auxílio de minha orfandade. Põe em meus lábios um discurso atraente, quando eu estiver diante do leão, e muda o seu coração para que odeie aquele que nos ataca, para que este pereça com todos os seus cúmplices. E livra-nos da mão de nossos inimigos. Transforma nosso luto em alegria e nossas dores em bem-estar”.

Salmo de Resposta - Sl 137
REFRÃO: Naquele dia em que gritei, / vós me escutastes, ó Senhor!
1. Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, / porque ouvistes as palavras dos meus lábios! / Perante os vossos anjos vou cantar-vos / e ante o vosso templo vou prostar-me.-R.
2. Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, / porque fizestes muito mais que prometestes; / naquele dia em que gritei, vós me escutastes / e aumentastes o vigor da minha alma. -R.
3. Estendereis o vosso braço em meu auxílio / e havereis de me salvar com vossa destra. / Completai em mim a obra começada; / ó Senhor, vossa bondade é para sempre! / Eu vos peço: não deixeis inacabada / esta obra que fizeram vossas mãos! -R.

Evangelho - Mt 7, 7-12
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus
Naquele tempo, Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem. Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas. - Palavra da salvação.

COMENTÁRIOS
   Hoje a liturgia nos faz uma pergunta: Em quem colocamos a nossa confiança? É no Deus de Ester que esperamos?
   Eu posso dizer e atestar por mim mesmo: meu Deus jamais me abandonou. Sim, é bem verdade que minha vida já foi cercada de muitas preocupações, mas quem não tem? O que não posso esquecer é que, no meio das tempestades da minha vida, meu Senhor e Deus jamais me abandonou.
   Ester também acreditava nisso. Vendo o sofrimento do seu povo, a rainha elevou seu coração em uma bela prece, que foi tocar direto no coração de Deus. A rainha confessa que não tem outro defensor além de Deus, pois apenas Nele põe toda a sua esperança; pois somente Ele ama, cura, liberta aqueles que lhe são caros.
   Nós também somos muito caros ao Senhor. O preço do resgate de nossas vidas valeu cada gota do sangue redentor de Cristo. Por isso não devemos nos sentir abandonados, sozinho, fracos. Jesus já se fez abandonado, sozinho e fraco por nós. Grande é a tribulação? Então eu devo lhe dizer: maior ainda é o nosso Deus que é maravilhoso!
   Com os ouvidos atentos a ouvir nossa oração, Deus está sempre disposto a nos ouvir e nos atender. A comparação feita por Jesus do amor do Pai do Céu e o amor dos pais da terra é uma bela verdade. Jesus nos faz lembrar do oráculo do Senhor em Isaías "acaso uma mulher esque o seu neném, ou o amor de suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecerer!" (Is 49,15).
   Que declaração de amor! Me emociona saber que eu sou tão amado por Deus. Mais até do que minha mãe me ama, mas do que meu pai me ama. O amor de Deus é maior que tudo. O amor que jamais abandona, o amor que cuida, que zela, que ensina. Ah! Como é bom se sentir amado assim!
   Eu não sei por qual deserto você está passando agora, não conheço suas dores e suas preocupações de cada dia. Mas posso dizer, com a autoridade de quem crê e confia: Deus não te abandonará jamais, porque ele te ama muito.

Bendito e louvado seja, o Deus de eterno amor. Tu que jamais se esquece de teus amados filhos, tu que amas com amor infinito, que cuida e que zela. Obrigado, Senhor por tamanho amor. O que seria de mim sem tua presença reconfortante em minha vida?
Como é bom reconhecer-se amado assim! Como é bom sentir-se acolhido por um Deus tão terno e carinhoso. Obrigado! Graças te dou, meu Pai, por seu carinho, por seu zelo, pelo cuidado com que me cercas, por tuas mãos carinhosas que tocam meu coração neste momento.
Obrigado, Senhor, porque mesmo nas dores e preocupações de cada dia, sei que estás ao meu lado, me animando, me dando forças para superar.
Clamo, por teu amor, cuida de mim. Permanece comigo e voltai os vossos olhos para minha preocupação. Converto minha preocupação em um canto de triunfo e de vitória, porque creio que já sou um vencedor, que mesmo em meio a tempestade que estou vivendo, Tu já reservaste para mim um campo de vitória e celebração.
Glórias sejam dadas a vós, Pai do Céu, por Nosso Senhor Jesus Cristo, no amor e na ação do Espírito Santo. Amém!

São Tarásio, rogai por nós!








segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Catedra de São Pedro

1ª Leitura - 1Pd 5, 1-4
Eis a exortação que dirijo aos anciãos que estão entre vós; porque sou ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e serei participante com eles daquela glória que se há de manifestar. Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse sórdido, mas com dedicação; não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos do vosso rebanho. E, quando aparecer o supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória. - Palavra do Senhor.

Salmo de Resposta  - Sl 22
REFRÃO: O Senhor é o pastor que me conduz, / não me falta coisa alguma.
1. O Senhor é o pastor que me conduz; / não me falta coisa alguma. / Pelos prados e campinas verdejantes / ele me leva a descansar. / Para as águas repousantes me caminha / e restaura as minhas forças. -R.
2. Ele me guia no caminho mais seguro, / pela honra do seu nome. / Mesmo que eu passe pelo vele tenebroso, / nenhum mal eu temeri. / Estais comigo com bastão e com cajado, / eles me dão a segurança! -R.
3. Preparais à minha frente uma mesa, / bem à vista do inimigo; / com óleo vós ungis minha cabeça, / e o meu cálice transborda. -R.
4. Felicidade e todo bem hão de seguir-me / por toda a minha vida; / e na casa do Senhor habitarei / pelos tempos infinitos. -R.

Evangelho - Mt 16, 13-19
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. - Palavra da salvação.

COMENTÁRIOS
   Bom dia, irmãos! Damos uma pausa às reflexões quaresmais hoje para uma celebração da Festa da Cátedra de São Pedro. Este festejo perdura mais de 1600 anos e tem sua origem em escritos do Papa São Dâmaso em que descreve um cadeira, dentro do Vaticano, que teria sido a cátedra do nosso primeiro papa. Hoje, desta cadeira, restam apenas alguns resquícios, guardados no interior de um relicário de bronze feito pelo artista Bernini. Sobre o relicário há uma cúpula onde se lê a frase bíblica: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus. E o que desligares na terra será desligado nos céus".
   A cátedra de São Pedro não é somente um símbolo do poder papal, mas também da autoridade da Igreja, conferida pelo próprio Cristo Jesus.
   Simão Pedro, como se sabe, era um humilde pescador, analfabeto, impulsivo, bruto. Mas a fidelidade daquele homem mereceu a confiança de Nosso Senhor. Como é belo o amor de Pedro, amor este professado não só com palavras, mas com a tristeza e a constrição após ter negado seu mestre e amigo.
   A que outro apóstolo seriam confiadas as chaves do Reino. João, o teólogo? Tomé, o incrédulo? Pedro está exatamente entre as posições de João e de Tomé. A impulsividade do pescador para atacar Malco é a mesma para responder que Jesus é o Cristo. Nos mostra que o pastoreio da Igreja se faz por um humano, cheio de defeitos, mas cheio de fé.
   O papa Pedro, que não sabia ler e escrever, se vale de secretários para escrever as suas duas cartas em que transmite suas orientações à Igreja Primitiva. E na leitura de hoje vemos as lições que o papa dá aos que conduzem as comunidades. Zelo, dedicação, testemunho de vida, amor.
   Ainda hoje, ministros ordenados e coordenadores pastorais precisam estar atentos às instruções do primeiro papa. O povo está sedento de Deus, tanto que tem buscado em outros lugares o que somente a Igreja tem autoridade para oferecer. Precisamos seguir o modelo de Pedro, que, por sua vez, somente fez o que Jesus lhe ensinou.
   Mas também podemos experimentar as lições do nosso amado Pedro neste período da quaresma, sermos testemunhas e levarmos a Palavra de Deus aos que trabalham, estudam, convivem conosco. Podemos e precisamos ser o Evangelho Vivo, testemunhado no meio dos povos.
   Não digo que será fácil, mas de uma coisa temos a certeza: o Senhor é o Pastor que nos conduz.

Oremos juntos
Vós que sois o Bom Pastor, que jamais abandonastes as tuas ovelhas, ensinanos a ser como Pedro, no amor fiél e incondicional por ti e por tua Igreja. Da-nos forças para que possamos ser como um Evangelho Vivo, que a tua Palavra esteja conosco todos os dias e que, através de nós, possa tocar os corações daqueles que convivem conosco.
Dai-nos a graça de sermos teus servos, mas esteja conosco. Somos fracos e sucumbimos diante das tentações, esteja conosco para que possamos ser fortes e resistir as seduções. Sei, ó Senhor, que estás comigo e que não me falta coisa alguma.
Que neste período da Quaresma, faz-nos repousar nos vales verdejantes, refresca nossa alma com a tua Água Viva e restaura as nossas forças.
São Pedro Apóstolo, rogai por nós. Ensina-nos a ser fiéis como tu és fiél.
Amém!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mensagem do Papa Bento XVI

A justiça de Deus está manifestada
mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3, 21–22 )

Queridos irmãos e irmãs, todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida á luz dos ensinamentos evangélicos . Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21 – 22 ).

Justiça: “dare cuique suum”

Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra “justiça” que na linguagem comum implica “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”, segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romano do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele “suo” que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais intimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado á sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais – no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena centenas de milhões de seres humanos á morte por falta de alimentos, de água e de medicamentos - , mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o “suo” que lhe é devido. Como e mais do que o pão ele de fato precisa de Deus. Nota Santo Agostinho: se “ a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu…não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21).

De onde vem a injustiça?

O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativo ao alimento, podemos entrever nas reações dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem “de fora”, para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua atuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus – é ingénua e míope. A injustiça, fruto do mal , não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista:”Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-me no pecado” (Sl. 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha, adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, consequência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, pegando no fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram à lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição ; à lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza. Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?

Justiça e Sedaqah

No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que “levanta do pó o indigente (Sl 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De fato sedaqah significa, dum lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (cfr Ex 29,12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e á viúva ( cfr Dt 10,18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei , pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egipto (cfr Ex s,8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre ( cfr.Ecli 4,4-5.8-9), o estrangeiro ( cfr Ex 22,20), o escravo ( cfr Dt 15,12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto – suficiência , daquele estado profundo de fechar-se, que é a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um “êxodo” mais profundo do que aquele que Deus efetuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?
Cristo, justiça de Deus

O anuncio cristão responde positivamente à sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “ Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De fato não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vitima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé” (3,21-25)
Qual é portanto a justiça de Cristo? É antes de mais nada a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura a si mesmo e aos outros. O fato de que a “expiação” se verifique no “sangue” de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si “ a maldição” que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a “bênção” que toca a Deus (cfr Gal 3,13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objeção: que justiça existe lá onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira cada um não recebe o contrário do que é “seu”? Na realidade, aqui manifesta-se a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidencia que o homem não é um ser autárquico , mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.
Compreende-se então como a fé não é um fato natural, cómodo, obvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitencia e da Eucaristia. Graças á acção de Cristo, nós podemos entrar na justiça “ maior”, que é aquela do amor ( cfr Rom 13,8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.
Precisamente fortalecido por esta experiencia, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor.
Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autentica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica.
Vaticano, 30 de Outubro de 2009
BENEDICTUS PP. XVI

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

1ª Leitura - 1Rs, 11-4-13
Leitura do primeiro livro dos Reis - Sendo já velho, elas seduziram o seu coração para seguir outros deuses. E o seu coração já não pertencia sem reservas ao Senhor, seu Deus, como o de Davi, seu pai. Salomão prestou culto a Astarte, deusa dos sidônios, e a Melcom, o abominável ídolo dos amonitas. Fez o mal aos olhos do Senhor, não lhe foi inteiramente fiel como o fora seu pai Davi. Por esse tempo edificou Salomão no monte, que está a oriente de Jerusalém, um lugar alto a Camos, deus de Moab, e a Moloc, abominação dos amonitas. E o mesmo fez para todas as suas mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e sacrificavam aos seus deuses. O Senhor irritou-se contra Salomão, por se ter seu coração desviado do Senhor, Deus de Israel, que lhe aparecera por duas vezes, e lhe tinha proibido expressamente que se unisse a deuses estranhos. Mas não seguira as ordens do Senhor. O Senhor disse-lhe então: Já que procedeste assim, e não guardaste a minha aliança, nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e dá-lo ao teu servo. Todavia, em atenção ao teu pai Davi, não o farei durante a tua vida. Tirá-lo-ei, sim, mas da mão de teu filho. Não lhe tirarei o reino todo, mas deixarei ao teu filho uma tribo, por amor de meu servo Davi, e por amor de Jerusalém, a cidade que escolhi. - Palavra do Senhor.

Salmo de Resposta - Sl 105
REFRÃO: Lembrai-vos, ó Senhor, de mim, lembrai-vos, / segundo o amor que demonstrais ao vosso povo!

1. Felizes os que guardam seus preceitos / e praticam a justiça em todo o tempo! / Lembrai-vos, ó Senhor, de mim, lembrai-vos, / pelo amor que demonstrais ao vosso povo! -R.
2. Misturaram-se, então, com os pagãos / e aprederam seus costumes depravados. /Aos ídolos pagãos prestaram culto, / que se tornaram armadilha para eles. -R.
3. Pois imolaram até mesmo os próprios filhos, / sacrificaram suas filhas aos demônios. / Acendeu-se a ira de Deus contra o seu povo, / e o Senhor abominou a sua herança. -R.

Evangelho - Mc 7, 24-30
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Em seguida, deixando aquele lugar, foi para a terra de Tiro e de Sidônia. E tendo entrado numa casa, não quis que ninguém o soubesse. Mas não pôde ficar oculto, pois uma mulher, cuja filha possuía um espírito imundo, logo que soube que ele estava ali, entrou e caiu a seus pés. (Essa mulher era pagã, de origem siro-fenícia.) Ora, ela suplicava-lhe que expelisse de sua filha o demônio. Disse-lhe Jesus: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não fica bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães. Mas ela respondeu: É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas dos filhos. Jesus respondeu-lhe: Por causa desta palavra, vai-te, que saiu o demônio de tua filha. Voltou ela para casa e achou a menina deitada na cama. O demônio havia saído. - Palavra da salvação.


COMENTÁRIOS
   Hoje a Palavra nos fala de fidelidade. A fidelidade que Deus tem por seu povo, por seus filhos. Nós, pelo contrário, quantas vezes não sucumbimos diante das seduções deste mundo! Foi o que ocorreu a Salomão, o rei cuja sabedoria era admiriadaaté mesmo por reis e rainhas de outros povos.
   Ao contrário de nós, Deus é fiel. Ao contrário de nós, Deus cumpre com suas promessas integralmente, a prova disso é que, mesmo estando decepcionado com Salomão, o Senhor não se esqueceu da promessa feita a seu pai, o Rei Davi, promessa esta estendida até o filho de Salomão.
   No dia em que a Igreja promove o Dia Universal dos Enfermos, em memória e desagravo de Nosso Senhora de Lourdes, devemos pedir à Mãe do Céu que interceda por nós e cure a nossa infidelidade, esta sim é a nossa maior miséria, da qual precisamos ser curados e libertos.
   Deus escolheu a decendência de Abraão e a constituiu como seu povo. Mas muitas foram as infidelidades cometidas por aquele povo, o povo que inventou preceitos e tradições humanas, um povo que voltou-se para seus próprios interesses e esqueceu de ouvir e fazer a vontade de Javé.
   Ainda assim, o Pai enviou seu Filho para o meio deles. Inúmeros prodígios e milagres foram feitos no meio daquele povo por Jesus, mas muitos ainda o rejeitavam. Esquecendo-se das profecias mecìânicas, o povo de Israel ignorou o Cristo e Jesus sequer foi aceito em Nazaré, a sua terra.
   Por isso Jesus decide ir até a outra margem do Lago de Genesaré, onde os povos pagãos e os judeus sem prestígio habitavam. O Médico dos médicos vai em busca do povo doente, oprimido e excluído. Jesus é buscado por gente pobre, gente do povo, pagãos excluídos pela doutrina imposta pelos doutores da lei.
   Por mais de uma Jesus afirma que não veio para curar doentes e expulsar demônios, contudo, era necessário que essas obras fossem feitas para menifestar a glória do Pai. O que Jesus queria mostrar ao povo é que Ele lhes daria a salvação e que, para isso, somente seria necessária a sua fé. O desejo de Deus é que o povo aderisse e se comprometesse com o seu plano de amor. Mas Israel seguiu o exemplo de Salomão e não aderiu ao Cristo.
   Mas o povo pobre, humilde e excluído viu naquele homem a presença de Deus, reconheceu Ele como o seu Senhor e Salvador, ao ponto de uma mulher pagã, a quem a promessa de Javé não foi dirigida, buscar Jesus.
   Jesus não deseja afastá-la. As palavras duras do Senhor servem para demonstrar o desejo de alcançar o coração de Israel. Mas aquela mulher teve fé, confiou em Jesus porque reconheceu nele o rosto de Deus.Ela vai buscá-Lo, e se põe diante dele em posição de humildada, como o cachorrinho que fica sob a mesa aguardando as migalhas que caem da refeição.
   Hoje este povo de Deus é a Igreja. A nós é destinado todo amor e fidelidade de Deus. O que Ele nos pede? Ele nos pede a adesão ao seu projeto de salvação, Ele nos pede que nos coloquemos diante Dele com humildade e fidelidade, reconhecendo-o como nosso único Senhor e Salvador.

Oremos juntos
Senhor, eu o reconheço como meu Salvador. Coloco-me a teus pés e ponho em Ti toda a minha esperança e consolo. Não preciso buscar em outros deuses coisa alguma, pois o que realmente preciso, somente Tu tens para me dar.
É com humildade que reconheço o seu senhorio em minha vida e permito que reine e domine sobre mim e sobre todos os meus dias. Estabeleça na minha vida o vosso Reino de Amor.
Peço-vos perdão por tantas vezes em que não fui fiel, em que não busquei a Ti, em que procurei abrigo em outras moradas onde não posso te encontrar.
Jamais se esqueças de mim, meu Deus, e não permita jamais que eu me esqueça de Ti.
Peço hoje, em especial, que Nossa Senhora de Lourdes ore por mim no Céu. Mãe, tu que estás junto de Deus, vem tocar em minhas enfermidades e curar as minhas misérias. Roga por mim, Santa Mãe de Deus.
Amém!!!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Felizes os teus servos, Senhor.

1ª Leitura - 1Rs 10, 1-10
Leitura do primeiro livro dos Reis - Naqueles dias, A rainha de Sabá, tendo ouvido falar de Salomão e da glória do Senhor, veio prová-lo com enigmas. Chegou a Jerusalém com uma numerosa comitiva, com camelos carregados de aromas, e uma grande quantidade de ouro e pedras preciosas. Apresentou-se diante do rei Salomão e disse-lhe tudo o que tinha no espírito. A tudo respondeu o rei. Nenhuma de suas perguntas lhe pareceu obscura, e deu solução a todas. Quando a rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão, a casa que ele tinha feito, os manjares de sua mesa, os apartamentos de seus servos, as habitações e uniformes de seus oficiais, os copeiros do rei e os holocaustos que ele oferecia no templo do Senhor, ficou estupefata, e disse ao rei: É bem verdade o que ouvi a teu respeito e de tua sabedoria, na minha terra. Eu não quis acreditar no que me diziam, antes de vir aqui e ver com os meus próprios olhos. Mas eis que não contavam nem a metade: tua sabedoria e tua opulência são muito maiores do que a fama que havia chegado até mim. Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, teu Deus, a quem aprouve colocar-te sobre o trono de Israel. Porque o Senhor amou Israel para sempre, por isso constituiu-te rei para governares com justiça e equidade. Presenteou o rei com cento e vinte talentos de ouro e grande quantidade de perfumes e pedras preciosas. Não apareceu jamais uma quantidade de aromas tão grande como a que a rainha de Sabá deu ao rei Salomão. - Palavra do Senhor.

Salmo de Resposta - Sl 36
REFRÃO: O justo tem nos lábios o que é sábio.
1. Deixa aos cuidados do Senhor o teu destino; / confia nele, e com certeza ele agirá. / Fará brilhar tua inocência como a luz / e o teu direito como o sol do meio-dia. -R.
2. O justo tem nos lábios o que é sábio, / sua língua tem palavras de justiça; / traz a aliança do seu Deus no coração, / e seus passos não vacilam no caminho. -R.
3. A salvação dos piedosos vem de Deus; / ele os protege nos momentos de aflição. / O Senhor lhes dá ajuda e os liberta, defende-os e protege-os contra os ímpios, / e os guarda porque nele confiaram. -R.

Evangelho - Mc  7, 14-23
Naquele tempo, Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: "Escutai todos e compreendei: O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça". Quando Jesus entrou em casa, longe da multidão, os discípulos lhe perguntaram sobre essa parábola. Jesus lhes disse: "Será que nem vós compreendeis? Não entendeis que nada do que vem de fora e entra numa pessoa, pode torná-la impura, porque não entra em seu coração, mas em seu estômago e vai para a fossa?" Assim Jesus declarava que todos os alimentos eram puros.
Ele disse: "O que sai do homem, isso é que o torna impuro. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem". Palavra da Salvação!

COMENTÁRIOS
   Felizes são os servos do Senhor. A Rainha de Sabá viu no Rei Salomão a manifestação da glória de Deus, expressa em sua sabedoria, na alegria de seus servos, em sua casa e até em sua comida. Assim também se manifesta a glória de Deus em nós, e podemos ver aqui, um sinal da glória eterna que há no Céu.
   A glória de Deus manifestada em Salomão é percebida por todos, até que sua fama atravessa as fronteiras de Israels e chega aos ouvidos de uma rainha estrangeira. A Rainha de Sabá chegou em Jerusalém com uma grande comitiva, uma demonstração do poder e da glória de seu reinado, mas um reinado humano, baseado em princípios do homem. Não há dúvidas de que palácio da rainha também era belíssimo e bem adornado, sua comida saboraso. Ainda assim, a rainha percebe algo diferente em Salomão. Ele não era apenas inteligente e sua sabedoria ultrapassava os limites do humano. Isto porque a sabedoria de Salomão vem de Deus.
   Mesmo sendo estrangeira, a rainha pôde perceber a verdadeira glória de Deus e o bendiz, reconhecendo o amor que o Senhor Javé tem por seu povo; mais ainda, a rainha presenteia Salomão com perfumes e pedras preciosas, em reconhecimento, não à sabedoria de Salomão, mas à sabedoria de Deus manifestada em Salomão. Os lábios de Salomão manifestavam a sabedoria de Deus, e sua língua proclamava a justiça do Senhor.
   Curioso percebermos que os elogios e os presentes recebidos da rainha estrangeira agradam ao Rei de Israel; enquanto a tradição judaica tem por impuro os alimentos e os presentes estrangeiros. A tradição feita para oprimir o povo é quebrada em Jesus. A sabedoria de Deus manifestada em Salomão era algo que brotava de seu coração. Não seriam os presentes estrangeiros que tornariam impura a sabedoria do rei.
   Assim hoje, precisamos compreender que nosso coração e nossos pensamentos sejam puros. As palavras e as ações dão testemunho da pureza do coração e da mente. Por isso, precisamos manter nossa mente ocupada com as coisas de Deus. Somente assim o amor e a sabedoria do Senhor brotará e transbordará de nossos corações.

Peçamos ao Senhor o dom da sabedoria e para que possamos viver os nossos dias na Sua justiça e manifestando sempre o seu amor.
Pai Santo e Querido, Deus de infinita sabedoria, vós que manifestas seu afeto e seu amor por nós a cada instante. Dá-me o dom da sabedoria, para que eu saib enfrentar os desafios de cada dia com coragem, mas, acima de tudo, com o teu amor.
Faz nascer em meu coração o desejo de buscar a vossa justiça e a vossa sabedoria, para que de meus lábios sejam derramadas as tuas Palavras e que minhas mãos saibam repetir os teus gestos de amor e carinho.
Sede, Senhor, a minha proteção para todos os momentos. Clamo pela presença da Trindade Santa em minha vida, hoje e em cada dia, para que eu possa experimentar da libertação, da salvação e da ajuda que só tu podes dar-me; pois eu confio em vós.
Amém!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Quão amável, ó Senhor, é vossa casa!

1ª Leitura - 1Rs 8, 22-23.27-30
Leitura do primeiro livro dos Reis - Em seguida, pôs-se Salomão diante do altar do Senhor, em presença de toda a assembléia de Israel, estendeu as mãos para o céu e disse: Senhor, Deus de Israel, não há Deus semelhante a vós, nem no mais alto dos céus, nem aqui embaixo, na terra; vós sois fiel à vossa misericordiosa aliança com os vossos servos, que caminham diante de vós de todo o seu coração. Mas, será verdade que Deus habite sobre a terra? Se o céu e os céus dos céus não vos podem conter quanto menos esta casa que edifiquei! Entretanto, Senhor Deus meu, atendei à oração e às súplicas de vosso servo; ouvi o clamor e a prece que hoje vos dirijo. Que vossos olhos estejam dia e noite abertos sobre este templo, sobre este lugar, do qual dissestes: O meu nome residirá ali. Ouvi a oração que vosso servo vos faz neste lugar. Ouvi a súplica de vosso servo e de vosso povo de Israel, quando orarem neste lugar. Ouvi-os do alto de vossa morada no céu, ouvi-os e perdoai! - Palavra do Senhor.

Salmo de Resposta - Sl 83
REFRÃO: Quão amável, ó Senhor, é vossa casa!
1. Minha alma desfalece de saudades / e anseia pelos átrios do Senhor! / Meu coração e minha carne rejubilam / e exultam de alegria no Deus vivo! -R.
2. Mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa, e a andorinha ali prepara o seu ninho, / para nele seus filhotes colocar: / vossos altares, ó Senhor Deus do universo! / Vossos altares, ó meu rei e meu Senhor! -R.
3. Felizes os que habitam vossa casa; / para sempre haverão de vos louvar! / Olhai, ó Deus, que sois a nossa proteção, / vede a face do eleito, vosso ungido! -R.
4. Na verdade, um só dia em vosso templo / vale mais do que milhares fora dele! / Prefiro estar no liminar de vossa casa / a hospedar-me na mansão dos pecadores! -R.
 
Evangelho - Mc 7, 1-13
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Naquele tempo, Os fariseus e alguns dos escribas vindos de Jerusalém tinham se reunido em torno dele. E perceberam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. (Com efeito, os fariseus e todos os judeus, apegando-se à tradição dos antigos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos; e, quando voltam do mercado, não comem sem ter feito abluções. E há muitos outros costumes que observam por tradição, como lavar os copos, os jarros e os pratos de metal.) Os fariseus e os escribas perguntaram-lhe: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos impuras? Jesus disse-lhes: Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam doutrinas e preceitos humanos (29,13). Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à tradição dos homens. E Jesus acrescentou: Na realidade, invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição. Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; Todo aquele que amaldiçoar pai ou mãe seja morto. Vós, porém, dizeis: Se alguém disser ao pai ou à mãe: Qualquer coisa que de minha parte te pudesse ser útil é corban, isto é, oferta, e já não lhe deixais fazer coisa alguma a favor de seu pai ou de sua mãe, anulando a palavra de Deus por vossa tradição que vós vos transmitistes. E fazeis ainda muitas coisas semelhantes. - Palavra da salvação.

COMENTÁRIOS
   Na 1ª Leitura vemos uma bela oração do Rei Salomão ao Senhor. Louvores e súplicas voltados a Deus. Mas muita coisa ainda precisava ser revelada, e Jesus e as revelou a nós. Salomão ergueu uma casa para depositar a Arca da Aliança, como Javé havia lhe ordenado. Ali, Salomão e todo o povo cultuava Deus na sua morada, onde o seu Nome redidiria.
   Quão amável é a morada do Senhor! Não os templos de pedra como o povo de Israel imaginava, repleto de preceitos e doutrinas que refletem mais a vontade do homem do que a vontade de Deus. Nós, cada um de nós, batizados, somos templo e morada de Deus. Este templo que precisa ser zelado e cuidado, onde podemos nos encontrar com o Senhor nas nossas orações pessoais.
   As leituras de hoje refletem a necessidade de cuidado e zelo pela Casa do Senhor, ou seja, cada um de nós. Hoje as lições de higiene nos mostram que os escribas e os doutores da Lei não estavam errados quando ensinavam ao povo a necessidade de lavar bem as mãos antes de comer. Aprendemos isto nas escolas quando ainda somos pequenos. Esta conduta é muito importante, dentre tantas outras para zelarmos pelo nosso corpo, templo de Deus.
   Mas esta conduta não pode ser exigida como algo que exclui ou oprime o povo. Nisto, Jesus vem nos revelar o que realmente interessa para Deus. Não os preceitos, mas o coração. Estamos cercados de preceitos vazios, que longe de nos aproximas, nos afastam de Deus.
   Nós, cristãos, precisamos refletir sobre nossas condutas. Tantos são os recursos oferecidos pela Igreja de Deus para que possamos nos aproximar Dele. A Sagrada Tradição da Igreja Católica e a Santa Liturgia devem ser vistos e vividos como preceitos que nos levam ao encontro de Deus e do próximo.
   O amor é o verdadeiro preceito a ser observado. O amor que nos aproxima de Deus e que nos leva a reconhecer no outro a presença amorosa do Pai. Um exemplo bem prático é o momento de confraternização que vivemos na Missa. Quantas vezes desejamos a paz de Cristo sem sequer olhar os olhos dos nossos irmãos, saimos apertando mãos e desejando a paz sem que este desejo saia realmente do coração. Muitas vezes, nem mesmo olhamos para quem estamos falando.
   Dar a paz de Cristo é um gesto, faz parte da liturgia da Santa Missa, é uma conduta que a Igreja nos pede para que possamos viver como irmãos. Reconhecer o outro como morada de Deus, assim como nós.
   O próprio Jesus nos ensina que, antes de depositarmos nossa oferta no altar, devemos estar bem com os nossos irmãos na fé. Peçamos a Deus que nos ensine e viver intensamente o que nos manda a Santa Mãe Igreja, não como preceitos vazios, mas como preceitos que nos levam a Deus e a reconhecer o próximo como irmão e como morada do Senhor.
 
Deus Bom e Fiel. Infinito é o vosso amor por cada mim. Obrigado por este amor e este carinho que tens por mim, tão grande e tão intenso que desejas fazer do meu corpo sua morada. Bendito sejas, Deus Santo e Amoroso.
Volta os seus olhos para mim, Senhor e me ensina a viver o amor como Tu queres. É o que desejo, Pai. Que me ensines a viver com meus irmãos na fraternidade e na partilha, como viveram os primeiros cristãos. Para que possamos ser Igreja, como foi a Igreja Primitiva.
Ensina-me a viver os preceitos e a doutrina da Tua Santa Igreja, não apenas como gestos vazios, mas como meio de me aproximar mais de Ti e do próximo.
Mandai sobre mim e toda a Tua Igreja um novo Pentecostes, para que possamos ser renovados na tua graça de amor e de misericórdia.
Ó Senhor, como é bom viver em tua casa! Como é bom saber que fazes de mim a tua casa! Como é bom viver em comunhão com a Tua Igreja, que é para mim como uma família, um lar, onde encontro o teu abrigo e o teu consolo, noite e dia.
Vem, Espírito Santo, e ensina-nos a viver como irmãos.
Amém!